A Bruna, da equipe do blog Post-Hardcore Br fez em parceria com Patrick (João Gabriel) da Feeling This Party, de Porto Alegre, uma review completa do recém lançado California, primeiro álbum do Blink 182 com Matt Skiba (também vocalista do Alkaline Trio) substituindo Tom DeLonge (vocalista e guitarrista do Angels and Airwaves, e atualmente também com um projeto solo). Quem é Patrick? Natural de São Paulo, tinha um canal de vídeos no YouTube com lives de bandas e rips da MTV numa vibe lbvidz. Se mudou pro RS em 2008 para tocar, e desde então faz parte da cena somehow. Depois do fim da banda Drive, e com o movimento já enfraquecido, veio a ideia da Feeling This junto com o Gil (também Drive).
E a Feeling This?
A Feeling This é um sentimento coletivo. Mais que uma festa, é uma iniciativa que veio como resposta da própria cena. Muitas pessoas tiveram suas personalidades moldadas por refrões e versos, histórias marcadas por bandas há horas no repeat, e é real a necessidade de se reconectar com essas histórias. “A nostalgia nos faz lembrar porque somos quem somos”.
Feeling ThisA Feeling This é nessa sexta! :putnam:
Posted by Feeling This on Thursday, June 30, 2016
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Confira nossa review abaixo:
O álbum abre com a faixa Cynical, que faz com que o álbum soe como uma carta aberta ao ex-vocalista e guitarrista Tom DeLonge. A verdade é que o contexto histórico da banda pesa muito nesse álbum, e quem conhece a banda sabe disso. Escolher essa track pra ser a primeira do disco é praticamente um ato político. É uma música rápida, com menos de 2', que deixa uma saudade do segundo verso que não existe. A letra nos faz ligar alguns pontos com No, It Isn't (+44), que parece falar nas entrelinhas como estavam os ânimos de Mark e Travis perante Tom DeLonge durante o hiato por tempo indefinido da banda. Como em todo o álbum, Travis Barker fez questão de gravar a música toda em um take só. Cynical foi a única que não deu certo, e aconteceu depois de 4 takes editados, incluindo aquele grito no começo. Colocar isso no álbum foi uma sacada que já dá os ares do John Feldmann (vocalista do Goldfinger e produtor do California) na obra.
O primeiro single, Bored to Death, dá sequencia com um leve ressentimento ["Rescuing a nightmare from a dream/The voices in my head are always screaming/That none of this means anything to me"], e faz uma transição para o que o disco realmente tem para oferecer: uma mistura de Blink old school com o amadurecimento que eles poderiam ter tido no Self Titled. Essa música traz uma fórmula que é aplicada em quase todo o disco: primeiro verso com Mark, refrão misto, segundo verso com Skiba. As vozes chegam a se confundir em alguns momentos onde a produção forçou uma homogeneidade.
She's Out Of Her Mind tem aquele refrão que poderia fazer parte da cena da piscina no American Pie. Soa bastante como Blink antigo, Take Off Your Pants... Parece que essa vibe era tudo que eles queriam, e o Tom não.
Los Angeles é o som mais diferente do disco. A melodia é densa, e a letra cita pontos da cidade de uma maneira meio pessoal. Essa track transborda Matt Skiba [muito mais que em qualquer outra. Talvez o fato de ele ter crescido em Illinois, enquanto o resto da banda é da California, acrescente esse tempero mais sombrio.
Sober e San Diego são as duas faixas que contam com participação de Patrick Stump (vocal/guitarra Fall Out Boy). Em Sober, a banda parece buscar uma sonoridade mais atual. Um beat reduzido, gang vocals e outros elementos presentes nas bandas da nova geração do pop-punk (e também nas músicas mais novas do FOB). San Diego por outro lado, é uma canção nostálgica/melancólica que faz aquele link com os sentimentos em relação a Tom DeLonge, e à cidade onde tudo aconteceu pra eles. John Feldmann chega a dizer que o Blink "colocou San Diego no mapa".
Built This Pool e Brohemian Rhapsody são duas faixas curtas com letras idiotas que provam que o Mark poderia ser aquele seu tiozão que faz a piada do pavê ou pa comê. Embora possa parecer forçado algumas vezes, a impressão é que isso faz parte de quem eles são afterall.
A princípio o nome do álbum seria "No Future". A ideia rebelde agregada a um refrão que faz todo mundo cantar junto parecia uma receita boa. Mas depois de divagar sobre o assunto, chegaram a conclusão que a negatividade desse título não valeria a pena, não resumiria a positividade do disco.
Assim como baterias rápidas, riffs simples e linhas de baixo com power chords, outro elemento clássico dos álbuns do Blink também presente em California é a baladinha. Defronte à pegada do disco, Home Is Such a Lonely Place quase passa batida, a não ser pela intensidade da letra quando colocamos Jack Hoppus (filho do Mark) como interlocutor.
Kings Of The Weekend faz um ótimo trabalho ao criar uma conexão real com o público ao qual o disco é direcionado. Grande parte dos fãs de Blink viveram ou vivem a glória do final de semana. É uma música que exalta o espírito de festa, tem uma letra mais superficial porém traz um riff muito bom, pegajoso. O que mais chama a atenção é o segundo verso, cantado por Skiba. Muita personalidade. Nesse trecho eu realmente senti quem é o Matt Skiba, como a voz dele soa cantando no Blink 182. O arranjo da bateria remete After Midnight.
Teenage Satellites, junto com as duas anteriores, foram criadas juntamente com David Hodges, e talvez seja por isso que essas 3 canções vêm na sequência. Caso não soe familiar, Hodges compôs A Thousand Years com a Christina Perri, já tocou no Evanescence e leva consigo a marca de 60 milhões de álbuns vendidos. O Blink tem quase 40 milhões (sim, contando todos os álbuns).
Se tem outra faixa que exalta o Matt Skiba, e ao mesmo tempo remete os vocais antigos do Tom, é Left Alone. Aquela rasgada na garganta tentando alcançar a nota, o sofrimento na interpretação da letra. É um refrão pra perder a voz. A bateria toda é bem quebrada, e tem uma chamada do refrão só com bateria e voz, explodindo com as guitarras abafadas, produção impecável.
Em algum momento da trajetória da banda, o Mark comenta que a ideia de ter aquele coelho como logo veio ao imaginar como o seria o coelho da Alice no País das Maravilhas em uma roda punk. Essa raíz está presente na analogia de Rabbit Hole, levantando um assunto mais sério que é o buraco sem fundo e a queda em espiral que uma mente pode criar.
The Only Thing That Matters é mais uma dose de 1:58 de Blink antigo. Uma fast-love-song que tem uma virada no segundo verso, ilustrando uma briga onde sobra até pros quadros pintados pelo Marilyn Manson. De fato, Matt Skiba tem mesmo um quadro pintado pelo Marilyn Manson, e ele fez questão de dizer que o quadro está em sua casa agora, quando questionado sobre o assunto. Pode ser uma lembrança do divórcio em 2009, entre ele e Monica Parker (ex do Davey Havok, AFI). De qualquer maneira, essa é realmente uma track de pop-punk californiano, nos lembra "Voyeur" (Dude Ranch), na pegada da versão The Mark, Tom and Travis Show.
California é muita coisa. Muito mais que uma música ou um álbum, é o estado que representa o berço do hardcore e do pop-punk. California traduz todo um lifestyle, que também tem seu lado sombrio. Ao mesmo tempo que esse som faz um brinde, ele também pontua essas questões. [Neighbors and friends that you don't know/Here's a form go wait in line], [Once we had love now it's gone/Good things haven't happened yet/I'm empty as a movie set]. É uma crescente que começa com uma ambiência tranquilizante, e que desenvolve acompanhando a evolução da bateria. Tem uma ponte com "Na Na Nas" e "Woahs", que são elementos usados em outras nove músicas só nesse disco. Seria também uma balada se não fosse a agressividade no final, com viradas típicas de Travis Barker. Composta em conjunto com Martin Johnson (vocal Boys Like Girls), que já escreveu com/produziu Avril Lavigne, Papa Roach, The Used, Escape The Fate, e também Ariana Grande, Jason Derulo e Taylor Swift. Seria um ótimo fechamento pro disco, levando o nome do álbum e também descrevendo o que é viver nesse lugar aos olhos do Blink 182. Uma homenagem a esse lugar histórico pra cena, aos seus méritos e defeitos. Eles são realmente gratos por terem nascido e vivido ali.
Esse álbum é uma injeção de felicidade nos verdadeiros fãs de Blink. Uma obra produzida em pouco tempo mas que trouxe uma reviravolta e desbancou o Drake do primeiro lugar (por nove semanas) no Top 200 Album Chart da Billboard. O Take Off Your Pants And Jackets até então era o único album deles a chegar no topo. Vendeu 186.000 cópias na primeira semana, se tornando o terceiro álbum de rock mais vendido em uma semana no ano de 2016 (atrás de Radiohead e David Bowie). Literalmente renovou as energias da banda e de quem os acompanha.
Confira o álbum!
John Feldmann produziu o álbum California, do Blink 182 e é vocalista do Goldfinger:
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