Quem conhece Nathan Gray, vocalista da icônica Boysetsfire, sabe que ele não costuma fugir de uma boa discussão. Em uma entrevista que começou por uma troca de e-mails e terminou em chat nas redes sociais, falamos sobre a importância da banda para a cena atual, o novo disco e, é claro, política. Nathan se mostrou mais uma vez um sujeito esclarecido e cujas opiniões não procuram agradar. Com ótimas respostas, ele é o tipo de artista que todos gostariam de entrevistar.
PHCBR: Juntamente com
bandas como At The Drive-In e Hot Water Music, o Boy Sets Fire é visto por muitas
pessoas (inclusive eu) como um dos pioneiros do que hoje chamamos de
"post-hardcore". Você concorda com isso? Vocês se enxergam como uma
banda de post-hardcore?
NG: Eu sinto que meio que sempre houve uma divisão clara
entre pessoas que chamariam o Boysetsfire de uma banda de hardcore e outras que
não. Eu não vou conseguir lembrar o nome, mas tem um site que você coloca o
nome de uma banda e ele lhe diz se a banda é ou não hardcore. Curiosamente, se
você colocar em Boysetsfire sem espaços, ele diz uma coisa e se você colocar
com espaços, ele diz outra.
Nós temos uma pegada post-hardcore? Sim. Nós também somos um
pouco punk, um pouco rock e, às vezes, somos um pouco metal. Eu apenas nos vejo
como uma banda que faz música. Rotular o tipo de música que você faz, de um
certo modo, define que tipo de música você "pode" e "não
pode" fazer. Pra falar a verdade, me orgulho muito de estar em bandas que
são difíceis de serem categorizadas. Isso significa que estamos criando álbuns
influenciados por coisas diversas.
PHCBR: Você foi um
dos primeiros vocalistas da cena punk a misturar vocais limpos e guturais. Muitas
bandas fazem o mesmo hoje em dia. O Stick To Your Guns tocou no Brasil há
alguns meses e o Jesse Barnes (vocalista) deixou claro que o BSF é uma referência
para eles. Você se vê como uma referência para esses vocalistas? Quem eram suas
referências?
NG: Fantástico. Obrigado, Jesse! Por alguma razão, muita
gente trata como uma coisa negativa o lance de admitir que já adotou um estilo
ou influência de outra pessoa. O Boysetsfire já está aí há algum tempo, e seria
bastante tolo se eu dissesse que eu não acho que ajudamos a influenciar um
determinado estilo. Eu conheço um punhado de artistas que admite livremente que
ajudamos a definir o som deles, e é sempre uma grande honra ouvir isso.
Eu pessoalmente, tiro inspiração de muitos, muitos lugares
diferentes. Mesmo quando eu era muito jovem, eu sempre mergulhava na música que
me intrigava, tirava as peças que me comoviam mais e tentava descobrir como
torná-las minhas. Eu tenho influências variadas. Desde Prince até Neurosis, a
Black Flag, a musicais de teatro, e Merle Haggard.
PHCBR: O BSF está
gravando um novo álbum. O que vem por aí se comparado aos outros?
NG: Você pode esperar alguns grandes hinos, um pouco de
punk, um pouco do hardcore, e alguns belos ritmos de condução. Eu realmente
acho que este álbum é diferente dos outros. Ele se formou em meio a uma
atmosfera positiva, ao invés de se focar em toda a negatividade do mundo. Ele
na verdade, se concentra na questão de autoempoderamento. Tirando isso, você
vai encontrar o que provavelmente esperaria de um álbum do Boysetsfire, há
grandes linhas de guitarras, batidas intensas e letras que você vai - espero -
querer cantar junto.
PHCBR: O BSF sempre
manifestou uma clara posição política em suas letras, no palco, e assim por
diante. Você acha que as bandas punk meio que perderam essa essência hoje em
dia?
NG: Eu não sei se presto muita atenção ao "punk moderno",
ainda mais hoje em dia. Às vezes penso que, coletivamente, as pessoas
tornaram-se menos sinceras do que eram antes. Aí eu entro no Facebook, e TODOS
têm uma opinião e TODOS querem que você conheça essa opinião.
PHCBR: Assim como
EUA, o Brasil é também um país conservador. Uma banda local (Dead Fish) teve
alguns problemas recentemente depois de declararem em seu perfil no Twitter que
eles são uma banda de esquerda e sua música não é para direitistas. Vocês já tiveram
algum problema do tipo?
NG: Nós nunca tivemos nenhum órgão do governo batendo em
nossas portas ou qualquer coisa do tipo, se é isso que você quer dizer com "problemas".
Certamente, sempre houve pessoas que não concordam com a minha/nossa posição
sobre determinadas questões, mas isso apenas faz parte de estar no centro das
atenções. Se você decidir expor publicamente suas crenças ou ideais, é melhor estar
pronto para responder por elas, defendê-las e admitir seus equívocos.
PHCBR: Na verdade,
quando eu mencionei que o Dead Fish teve problemas por se posicionar
politicamente, eu estava me referindo à má repercussão na internet que houve
com os fãs não-esquerdistas e com as pessoas em geral.
NG: Ah, saquei. Eu nunca notei qualquer repercussão negativa
com a gente. Mas novamente, eu nem presto atenção a essas coisas.
PHCBR: Havia rumores
de que vocês viriam ao Brasil um pouco antes da pausa da banda em 2007. Estava
mesmo pra rolar uma turnê?
NG: Não que eu saiba. Haha!
PHCBR: Finalmente, os fãs podem sonhar com uma turnê
brasileira para o próximo álbum?
NG: Quem sou eu para dizer às
pessoas o que podem ou não podem sonhar? ;)
Cold
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No dia 25 de Setembro o Boysetsfire irá lançar o seu novo álbum via End Hits e Bridge Nine Records. "Cutting Room Floor" é o primeiro single do novo material e você pode ouvir logo abaixo:
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