PHCBR entrevista: Thrice



A Solid Music Entertainment traz ao Brasil uma das bandas mais aguardadas e aclamadas pelos fãs de Post Hardcore. Serão três shows em terras tupiniquins que acontecerão em agosto. Aproveitamos a ocasião para bater um papo com Dustin Kensrue, o frontman da banda. Confiram:

1 - Após longos anos de espera, finalmente teremos o prazer de vê-los tocar por aqui. Cada vez em que surgiam boatos de que vocês tocariam no Brasil, era notável que o público de vocês estava crescendo cada vez mais por aqui.
Estamos ansiosos por recebermos uma banda que consideramos lendas do Post Hardcore. Como vocês se sentem sabendo que alcançaram este status e sobre excursionar em nosso país? Vocês gostariam de dizer algo aos fãs brasileiros?


Dustin: Primeiramente, sentimos muito que tenha demorado tanto. Nós queríamos ter vindo muito tempo atrás, mas nunca deu certo por uma série de motivos que nunca entendemos completamente. Estamos bem animados por finalmente ir e encontrar todos nossos amigos que constantemente nos lembravam de "come to Brazil!"

2 - Thrice é musicalmente vista como uma banda camaleão. Do "Identity Crisis" para o "The Artist in the Ambulance" já era notável uma grande evolução, a partir deste ponto, o contraste de um álbum para outro foi cada vez maior. A princípio era fácil de rotular vocês como uma banda de Post Hardcore, porém hoje em dia é até injusto tentar rotular. Como vocês enxergam essa questão de uma banda, a partir do momento de sua criação, ser atrelada a um gênero e como vocês descreveriam o gênero musical do Thrice hoje? Vocês conseguem apontar quais foram os fatores determinantes na mudança de sonoridade e qual foi o segredo para que elas não afetassem a essência da banda?


Dustin: Nós nunca realmente nos encaixamos em lugar nenhum. Nós fomos rotulados de todo tipo de coisa, mas esses rótulos nunca pareceram amplos o suficiente para comportar o que estávamos tentando fazer como uma banda. Talvez a melhor explicação é que nós nunca identificamos nós mesmos com muita coisa em particular e, desta forma, nós nunca nos sentimos obrigados a escrever músicas que se encaixassem em qualquer categoria. Nós claramente temos músicas pesadas e nossos shows não seriam o mesmo sem elas, mas também gostamos de fazer músicas que tenham muita dinâmica também. A essência da banda é que sempre foi nós quatro e nós escrevemos músicas juntos, o que é um desafio e, ao mesmo tempo, o que torna isso único no final.

3 - Em alguns lugares da internet vimos que o nome da banda veio de uma piada interna sobre uma disputa de gameboy. Essa história é verdade? Aproveitando que falamos sobre videogames, a banda tem uma ligação bem legal com a cultura pop. Existem diversas músicas em trilhas de jogos e filmes. Certa vez, em um fórum brasileiro sobre música, um fã disse que o primeiro passo para o Thrice seguirum caminho experimental foi a referência de Dragon Ball Z na música "T & C". Qual a sensação de sua música atingir estes formatos que vocês parecem ser fãs também e ver as pessoas ouvindo e até tocando suas musicas em jogos?

Dustin: A Piada interna saiu do jogo Frogger em algum momento lá atrás. Não me lembro da plataforma. Era também o nome do nosso grupo de amigos no ensino médio e, finalmente, se tornou o nome da banda. Não é o nosso favorito, mas haviam nomes piores.
Conforme os games saiam, nós basicamente encaramos isso como outra oportunidade para alguém que talvez nunca tenha escutado nossa música escutar. Nossa melhor contribuição com videogames certamente foi o cover de Minor Threat em Tony Hawk.


4 - Thrice é uma banda que sempre teve muito a dizer. Em todos os momentos da carreira, foi falado sobre religião, política, sentimentos, filosofias de vida. Não podemos reclamar do conteúdo lírico criado por vocês. Diante deste conteúdo tão rico, sempre foi visível que o Thrice sempre teve um propósito definido em todos os momentos de sua existência, mesmo não sendo o mesmo em todos os momentos. Quando a banda saiu do Hiato, vocês falaram sobre a necessidade de falar sobre o que estava acontecendo no mundo. De lá pra cá aconteceram tantas coisas importantes, que acredito que devem mexer com vocês neste aspecto. Gostaríamos de saber, no momento, qual a motivação para continuar produzindo e qual a mensagem que vocês buscam nos passar? Também gostaríamos de saber como vocês se sentem em relação a ter uma grande responsabilidade nas coisas que vocês dizem sobre assuntos tão complexos?


Dustin: Eu diria que, da nossa perspectiva, eu não acho que sempre tivemos um propósito além da música, mas nós tentamos utilizar nosso papel no mundo da melhor forma que podemos. Nosso último álbum tratou de muitas questões atuais do mundo de forma mais direta. Nosso próximo lançamento vai ser ainda mais engajado e temático em resposta da era atual, mas vai ser assim não por apontar as coisas diretamente, mas tentando ir mais a fundo nas questões e mergulhar em situações de nossos corações e nas suposições inconscientes que temos que acabam afetando nossas ações. É um álbum muito pessoal, mas eu também acho ele bem oportuno, impactante e que pode ser de grande ajuda para as pessoas.



5 - Existem inúmeras músicas do Thrice que se tornaram verdadeiros hinos de uma geração. Como vai ser a primeira vez que vocês vão tocar aqui, tem muita coisa que vamos querer ouvir, mas sabemos que podem não fazer parte do setlist. O que podemos esperar dos shows no Brasil? Outra coisa que gostaríamos de saber também é sobre "Deadbolt": se procurarmos nas estatísticas em serviços de streaming, não é a música mais tocada, porém ao vivo é o "Smells like teen spirit" de vocês. Como se sentem com as músicas antingas sendo tão relevantes até hoje e por quê vocês acham que a "Deadbolt" é tão especial para os fãs?

Dustin: O setlist vai ser uma bela mistura dos últimos álbuns. Certamente vai ter algumas músicas do "The Artist in the Ambulance" e, sim, tocaremos Deadbolt. Sobre o porquê desta música ter se tornado o que ela é hoje, realmente não sabemos dizer. Costumava ser uma música chamada "T&C", mas em algum momento mudou para a "Deadbolt". Era super irritante no começo, mas nos acostumamos e acolhemos isto o máximo que conseguimos. O único momento em que continua sendo irritante é quando alguém começa a gritar por ela em uma parte calma de outra música. Não é legal.
É como tentar roubar o momento para você ao invés de aproveitar o momento que todos ao redor estão compartilhando.

6 - Uma outra música em específico que gostaríamos de perguntar sobre é "So Strange I Remember You". Um trecho dessa música deu nome ao álbum "If We Could Only See Us Now" e nesta compilação existe uma versão ao vivo bem diferente da música. Como que falamos anteriormente sobre evolução musical, esta é uma música em que isso é notável: a intensidade emocional parece até maior na segunda versão. Gostaríamos de saber mais sobre a música e sobre o signifcado dela.


Dustin: Essa é uma música interessante. A letra começou com a inspiração de  algumas gravações de EVP (Electronic Voice Phenomenon, ou Fenômeno de Voz Eletrônica, em português) que era capturado no rádio de vez em quando. Eram fragmentos de frases, mas eram estranhamente convincentes. Não tenho certeza agora, mas acho que a frase que começou tudo foi o primeiro trecho da música "tão estranho eu lembrar de você". O resto foi escrito no estilo fluxo de consciência, com algumas alterações posteriores. Foi a única música que eu realmente escrevi desta maneira. A música varia tanto quanto os significados de uma linha para outra, mas de forma geral, ela explora a ideia de como seria olhar de volta para você, do outro lado da morte.

7 - Thrice tem praticamente duas décadas de banda. Neste período não houve troca de membros, o que torna a banda algo muito orgânica. Vocês se conheceram bem jovens e amadureceram juntos. Hoje, todos tem família e outras prioridades além da música. Na época do "Beggars" vocês até preferiram montar um estúdio na casa do Tappei para conciliar as coisas. Aparentemente, vocês são pessoas com uma capacidade de interação pessoal invejável. Isso aconteceu naturalmente ou vocês criaram uma metodologia durante o tempo? Como as famílias de vocês enxergam essa coisa de "rockstar"?

Dustin: Na verdade, nós construímos o estúdio para o "Alchemy Index", a princípio, e aí utilizamos ele para o "Beggars" também. De certa forma, estivemos sem um lar por um tempo, mas estamos definindo um novo lugar para ensaiar e gravar. Entretanto, nossa relação definitivamente funciona como uma dinâmica familiar. Nós tivemos nossos tropeços no caminho ao longo do tempo, mas nós realmente amamos e valorizamos uns aos outros. Depois de uma parada anos atrás, acho que estamos no estado mais saudável como banda, desde que começamos.
Nesse tempo todo em que trabalhamos e tocamos música juntos, acho que é algo que só se desenvolveu mais e mais conforme saímos em turnê juntos. As turnês definitivamente são o que torna uma banda melhor, numa visão mais ampla.
E se nós realmente formos rockstars, seria mais fácil se pudéssemos bancar para que nossas famílias nos acompanhassem na estrada. Mas nossos familiares nos apoiam, mesmo que na maioria das vezes seja bem difícil para eles conosco viajando o tanto que viajamos.

8 - Ao que conseguimos lembrar, Thrice é uma banda que não tem participações especiais nas músicas. A banda parece ser bem fechada em relação ao processo criativo. Existe alguma razão específica para isso ou é só algo que acabou nunca acontecendo mesmo?

Dustin: Nós tivemos algumas pequenas colaborações no passado. Eu consigo citar algumas linhas vocais no "Alchemy Index".
Nossa amiga, Donia, cantou algumas partes de "Digging My Own Grave" comigo, e alguns outros amigos cantaram o final de "Firebreather". Não tem um grande motivo para não terem acontecido mais participações. Eu acho que uma coisa que influência isso é o fato de que a maioria das bandas que gostamos e são próximas de nós não são do sul da Califórnia, mas deve ter alguma participação no próximo álbum.

9 - "Vheissu" é um trabalho recheado de detalhes. A capa que foi feita por Dave Eggers contém muita simbologia e referências sobre as músicas. Durante o processo de criação dela, vocês também participaram? Existe um significado oculto ou alguma explicação extra sobre ela?

Dustin: Certamente tem um conteúdo místico na arte e nós estávamos envolvidos em parte da criação, mas eu acho que se eu tentar explicar muito, isso pode tirar uma parte do que as pessoas já repararam nela. Eu acho que tem uma grande variedade de coisas pra descobrir nela.

10 - Agora falando sobre o futuro, parece que vocês estão tão empenhados como sempre e que o hiato foi só um período de descanso mesmo. Recentemente foi lançada a música "The Grey" e tudo indica um novo álbum vindo por aí. Quais são os planos para o futuro?
Agradecemos imensamente pela atenção de vocês e esperamos não ter prolongado muito a entrevista!


Dustin: Nós finalizamos a gravação de um novo album que será lançado ainda este ano. Vai ter mais informações a respeito muito em breve, mas é só o que eu posso dizer por hora. Muito obrigado!


Video Dustin Thrice S.A Tour:


 __

Siga o blog:

Twitter: @posthardcore_br
Instagram: @posthardcore_br

Share on Google Plus

About Rodrigo

This is a short description in the author block about the author. You edit it by entering text in the "Biographical Info" field in the user admin panel.

0 comentários :

Postar um comentário