Um dos grandes nomes do metal nacional, o Noala vem desde 2009 com um som bem coeso, no que podemos dizer ser uma mistura de post-metal, slude, progressivo e punk. Banda que conta com integrantes que já tiveram passagem por diversas bandas do grindcore/crust/black metal nacional, sempre com trabalhos intensos e shows memoráveis.
Dessa vez nosso amigo Erick Tedesco levou uma conversa com o Felinto sobre o recente trabalho, a parceria com a Abraxas e participação da banda no Abraxas Fest.
Confiram!!!
O Noala recém lançou o segundo disco da carreira, homônimo, repleto de experimentalismos. É um trabalho bem complexo, que flui de forma muito agradável porque são composições sólidas e inteligentes. Quais foram as paixões, ódios, ideias e urgências que compõem este registro?
Bom, este disco para nós é um mistério ainda, ele vem de uma história de mais de 3 anos, entre o início das gravações em 2016 até a masterização em 2018. No início estávamos em crise, nosso antigo baixista nos deixou, sendo sugado pela necessidade de trabalhar, não sabíamos como prosseguir. Ali se iniciou uma série de mudanças que por muitas vezes nos empurrava a sensação de que o barco perdia o prumo. Gravamos tudo em 2016 e o processo foi angustiante, algumas músicas já encaminhavam para um som que queríamos diferenciar em relação ao álbum anterior, outras foram feitas as pressas e gravadas de modo aberto, sem final definido e com uma sonoridade que sequer sabíamos se era de fato o que queríamos ou apenas o que havia saído da mente nas condições daquele contexto. Tinhamos que correr para não perder uma gravação gratuita oferecida pela Ruber Tracks, não fosse esse ponta pé inicial talvez este disco não existiria agora.
Tiramos os arquivos da Ruber Tracks, levamos para o estúdios Mestre Felino em Mogi, uma desavença entre as pessoas que estava produzindo o álbum empacou nosso processo até 2017 e neste ano finalmente concluímos o álbum contando com apoio de amigas. Bom, digo tudo isso, para que saibam que este disco foi feito sob o sina da precariedade de nossas condições, hora financeira, hora afetiva / emocional e em outros momentos um tanto de perda de senso de organização. Tudo isso aparece no álbum transmutado em superação.
Penso que as novidades tem muitas facetas, talvez para quem escute o álbum dê para perceber que há uma exploração de narrativa mais contínua, o emprego de paisagens sonoras, recursos eletrônicos sutís, mas mais presentes e sinestésicos, uma exploração de timbres mais evidentes e alguns processamentos de pós produção, no entanto, no âmbito da banda nos colocamos intencionalmente e situações que acho dignas de frisar como percurso. Trabalhamos com três mulheres na produção desse álbum, Helena Duarte, que fez captação e parte da gravação, Muriel Curi, que mixou e experimentou lindamente sobre nossos sons e Luana Moreno, que fez nossa master. Experimentamos romper com o padrão de produção tão nocivamente centrado na confiabilidade em homens, estas mulheres deram o som que o álbum tem e, naquilo que elas anteviam, quando tudo ainda estava tosco, lapidaram de nos deram um disco com músicas que até para nós soaram novas.
Este álbum também tem um interesse novo, no que diz respeito as letras das músicas, elas são menos abstratas e falam da vida de modo positivo, os sons apresentam uma vontade de estar no mato, na natureza, uma vontade de estar são, saudável e atento. Dois membros da banda mudaram-se para o campo durante o processo de criação deste álbum. Entramos em nossa fase solar, de um sol cru, que aquece e queima.
Como uma das bandas da edição de São Paulo do Abraxas Fest, o Noala vai abrir para o Eyehategod e pro Samsara Blues Experiment, dois monstros em seus respectivos espaços. Em que momento o sludge ou o rock psicodélico se encaixa no som do Noala?
Noala, como quase toda banda que tem real interesse em música, tem envolvidos com gostos diversos. Entre nós há que escute quase que apenas jazz, há quem escuta quase que apenas música eletrônica, há quem escute punk e outras paradas mais pesadas. O experimentalismo vem de todas estes encontros, não necessariamente do sludge, Alessandro, nosso guitarristas foi quem primeiro trouxe o aproach sludge para o nosso som, já minha relação com a músicas de bpm baixo vem do darkwave e do doom, mas nada disso faz tanto sentido hoje, tocamos como conseguimos tocar, talvez seja apenas o nosso repertório técnico o que nos aproxime do sludge porque de fato não temos tanta pira em segmentar nosso som. Por outro lado a música psicodélica, e não apenas o rock, caminham conosco há muito tempo, em nós sempre exerceram atração as pessoas que criam modos não formais de tocar um instrumento, de alguma forma essa galera que dropa afinação, que usa encordamento grosso e um mar de pedais sempre nos apontou que há modos mais divertidos de fazem música, de pesquisar texturas e densidade e intervalos. A verdadeira psicodelia é arrar, continuar de boa, validar o erro como uma brincadeira íntima com o instrumento e tirar disso algo que preencha o coração, que excite e que mate as frustrações.
Para compor e executar o tipo de música proposto pelo Noala requer um preparo físico e espiritual diferente do que apenas ligar os aparelhos e tocar?
Existem bandas que fazem rituáis conjuntos antes de tocar ou compor, não é o nosso caso, até gostaria de dizer algo místico e tal. Tudo é muito solto, positivamente falando, autônomo. Cada qual se prepara ao seu modo. Nos momentos de composição alguns riffs são feitos no próprio estúdios, outro vem de estudos mais solitários, feitos em casa durante um momento de chapação ou busca obsessiva pelo som ideal, talvez estes momentos tenham muito de busca espiritual. No estúdio pegamos estes riffs e damos uma atenção mais mundana mesmo, olhamos tecnicamente, com atenção, o que cabe e que não cabe, metade da banda pausa, vai fumar, outra metade não sai da sala de ensaio e fica testando riffs, estudando timbragem ou algo do tipo . Noala requer equilibrio emcional e boa escuta, nossos ensaios são bastante conversados, nunca é chegar, ligar e tocar.
O disco novo oficializa a parceria com a Abraxas, que comemora 5 anos no Abraxas Fest de outubro. Qual a importância da Abraxas neste momento da banda?
Neste momento da banda, em que nos vemos mais maduros, mais livres para ressoar uma vontade de desprendimento estéticos é importante que estejamos com um selo como a Abraxas, não só por serem gente do stoner, mas por serem pessoas bacanas interessadas e trocar ideias que estrapolam o tema da música para depois voltar para o som. Antes do encontro Noala e Abraxas acontecer, nós da banda já vivíamos alguma admiração pelo corre que o selo faz. Outro aspecto que para nós é bastante legal é notar que as fronteiras de interesse do selo são amplas e que entre seus lançamentos existem pesos diferentes como Necro e Saturndust, para nós este abrangência conversa muito ocm a liberdade que queremos para nossa música, que está em processo de mutação constante. Para nós é um momento feliz na banda, estamos com músicas com bom potencial, gostosas de tocar e um selo, como a Abraxas, funcionado com bastante interesse e ver coas boas acontecendo na cena musical nacional.
NOALA:
Bandcamp
Spotfiy
Onerpm
Abraxas Fest em São Paulo
Evento: www.facebook.com/events/428628674243793
Data: 13 de outubro de 2018
Horário: a partir das 17 horas
Bandas: Eyehategod, Samsara Blues Experiment, Noala, ITD
Local: Fabrique Club
Endereço: Rua Barra Funda 1071 - Barra Funda/SP
Ingresso: R$ 120 (meia entrada, com doação de um quilo de alimento/primeiro lote antecipado) até a véspera do show, online (com taxa de serviço)
Vendas online: https://www.sympla.com.br/abraxasfestsp
Venda física (sem taxa de conveniência):
Yoga Para Todos (Rua Doutor Cândido Espinheira, 156 – Perdizes) - (11) 94314-7955
Volcom (Rua Augusta, 2490 - apenas em dinheiro) - (11) 3082-0213
Loja 255 na Galeria do Rock - (11) 3361-6951
Ratus Skate Shop (Rua Doná Elisa Fláquer, 286 - Centro, Santo André) - (11) 4990-5163
Na Hora: R$ 140 (meia entrada, com doação de um quilo de alimento/primeiro lote antecipado); R$ 240 (inteira)
Censura: 16 anos ___
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